Está virando moda no mundo todo uma frase que marcou a luta
da música popular brasileira contra a ditadura: Apesar de você, amanhã há de
ser um novo dia.
Vamos partir do macrocosmo, lá do outro lado do mundo.
Apesar do terrorismo que tomou conta de toda uma região, obrigando milhares de
pessoas a largarem tudo e se arriscarem a viver em outro lugar (contra a
certeza da morte se ficassem), ainda há os que encontraram forças para ir além
e tentar concorrer na Olimpíadas de 2016.
Apesar das terríveis advertências sobre a criminalidade, as
doenças, as obras malfeitas, a desorganização e a quebra das promessas de
infraestrutura nos locais dos jogos, as delegações vieram ao Brasil e vão lá
ganhando os seus louros e construindo histórias de superação individual e
coletiva.
Apesar de todas as expectativas em contrário, a abertura
dos jogos foi um show à parte que encantou o mundo todo pela sua beleza e
simplicidade, com direito a expressão popular à política de micro discurso. O
registro está feito e pode ser visto e revisto na implacável divulgação internética,
um neologismo que apresenta a velocidade e invencível democracia dinâmica do
novo mundo cibernético. Sem dó ou piedade, mas com lados antagônicos amplamente
defendidos por bilhões de interpretações individuais que tentam conquistar o
pódio olímpico.
Qual a lição que fica diante dos resultados e dos discursos
dos vencedores? Apesar de você. Os países que investem pesado em seus atletas,
que criam programas e desenvolvem tecnologias para apresentar os melhores
resultados, levam fácil o ouro. Para todos os outros, continua valendo a mesma
lógica que os brasileiros estão acostumados a vivenciar no seu dia a dia: Seja
um vencedor para ser um vencedor com apoio.
Essa é a mesma lógica que empresas usam para exigir dos
jovens candidatos, um alto grau de conhecimento e experiência, além de
juventude e dinamismo. Só não dizem como é que um jovem que tem que escolher
entre estudar muito para adquirir conhecimentos, conseguiria ter experiência só
adquirível se tivesse um trabalho anterior, conseguiria fazer a junção entre os
dois mais exigidos requisitos se um acaba por invalidar o outro.
É fato que quem trabalha de dia e estuda a noite não tem
tempo para fazer os cursos básicos, uma faculdade boa, e ainda estudar uma
língua estrangeira. E se não trabalha, dificilmente terá condições de pagar
boas escolas e, com certeza, não poderá adquirir a tão exigida experiência
profissional. Quem tem que nascer primeiro? O ovo ou a galinha?
Nesse caso a lógica é simples, a galinha tem que virar
canja para que o ovo possa ter alguma chance. Ou em termos brasileiros, tem que
dar um “jeitinho” de se inserir entre os bons para poder demonstrar o quão bom
é.
Mas ser bom não basta, sempre haverá um batalhão de inconformados
que elevarão as suas vozes contra todo aquele que está tentando escalar com
suas próprias mãos o paredão do sucesso, puxando suas pernas como se fossem
zumbis vorazes por cérebros frescos. Superar isso e alcançar uma oportunidade
já deveria valer por toda a “experiência” que fosse necessária, mas não
funciona assim. Ainda tem que enfrentar os melhores de outros lugares mais
privilegiados, que foram estimulados a serem os melhores, que tiveram todo o
apoio necessário. São duas batalhas em uma, sendo que o adversário só vai lutar
a segunda “de igual para igual”.
Mas o mesmo vale para todas as profissões no Brasil. Vale
para o empresário, vale para o administrador, para o professor, para o médico.
Vale para o escritor, o jornalista, vale para o ator e para o cozinheiro. Só
não vale para o político. Este só precisa querer fazer parte de uma raça a
parte, ter aquela motivação de falar bonito e se apresentar sempre bem vestido,
com ar de sucesso garantido. Nenhum diploma é exigido, nenhum talento é
cobrado, nenhuma experiência é apontada como fator de sucesso. Convença os
outros de que é, e será. Então poderá comandar todos aqueles que tiveram que
suar sangue para alcançar alguma colocação melhor e poderá ser fotografado como
um “apoiador” deste novo e deslumbrante talento, um símbolo que vai fazer
brilhar o seu sucesso. Até que outro o substitua.
E assim, o jeitinho vai sendo a regra e o Brasil vai
avançando do jeito que conseguir se manter, apesar de todos os governantes incompetentes
que tiver que encarar ao final de cada sucesso alcançado, não por causa deles,
mas apesar deles. Esta não é uma terra para amadores, por certo.
(Danny Marks)
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