O Brasil está cheio de puristas, ao menos aparentemente.
Essas figuras intransigentes que defendem com dureza a
tradição irretocável dos discursos renascem a cada palavra estranha que
aparece, ou quando há um interesse maior em defender a superficialidade do que
se quer discutir.
Quem não conheceu aquela pessoa que, já na infância, se
esmerava em corrigir palavras ou frases ditas ou escritas para esgrimir sua
superioridade, na língua? Talvez não muitos, hoje em dia, por conta dos
aplicativos de celular que devoram e corrompem palavras a título de corrigir ou
sugerir algo que permita uma maior rapidez na transmissão do pensamento.
Cria-se a impressão de que dominar um vocabulário melhor,
mais extenso e elaborado, é sinal de erudição, de um saber superior que deve
ser respeitado. SqN (só que não) diriam os digitadores polegares. E, por vezes,
há muita razão nisso. Basta observar o quanto fica raso um debate que
tergiversa (enrola, fica rodeando sem aprofundar) em cima da forma como foram
ditas as coisas e não com as coisas que foram ditas.
Cada vez mais comum nos meios políticos, esse purismo da
língua se torna a forma feroz de defender os interesses da nação, apontando
para este ou aquele infortunado candidato a qualquer coisa com o dedo rígido da
incompetência. Para que tantas pernas? Perguntaria o poeta.
A lógica diz que, quando não se busca um aprofundamento no
conteúdo, permanecendo apenas na análise da forma, é porque não se possui o
conhecimento necessário, ou não se tem o interesse nessa iluminação do
obscuros, sendo a superficialidade a melhor forma de se proteger em ambos os
casos.
Então, quando um político, ou adversário deste, se prende
ao purismo nas frases e termos discursivos sem adentrar ao conteúdo oferecido
(ou não) por estes, o que me vem à mente é justamente a incompetência sobre o
conteúdo ou a falta de interesse em revelar algo que pode afetar a ambos,
acusado e acusador, por algo que deve permanecer oculto aos olhos alheios, mas
que são bem visíveis a ambos os lados.
Perceba que quando um corrupto se defronta com outro,
jamais vão falar em corrupção. Não se quer levantar questão sobre o tema. Então
fala-se em “o que tem feito”, no sentido de obras públicas, deixando a ameaça
implícita apenas ao outro sobre as obras ocultas. É nesse ponto que os
verdadeiros puristas da língua, analisando os discursos dariam o veredito de
que o “mas” (no entanto, por outro lado, alternativamente) é substituído de
forma consciente ou inconsciente pelo “mais” (somatória, acréscimo) para gerar
forma tergiversativa no discurso do que não se quer dito de forma clara, mas
que se deseja que seja apreendido (percebido) pelos defensores ideológicos
defenestradores (ato de lançar violentamente de uma janela ou local elevado, ao
chão) do discurso alheio.
Quando a violência se expressa em minucias (coisas mínimas)
deixando de lado os pontos mais importantes, fica claro, para quem quiser
entender, que não há objetivo em propalar (divulgar, tornar público) a verdade,
apenas se agarrar em algo que não se torne uma arma voltada contra si.
Suicídio não vence batalhas, e a cada dia mais, fica
evidente esse fato para os dirigentes dessa nobre nação miscigenada na raça e
na língua, que ainda é viva, no sentido de que se renova constantemente, mas
ainda precisa de muito para ficar viva, no sentido popular de experta.
E depois me perguntam: Mas, o que isso tem de mais?
Danny Marks
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