Introdução
Vivemos na era da informação, portanto era de se esperar
que as Teorias da Conspiração cairiam em desuso tanto no mundo real quanto na
sua interpretação, o mundo das artes. Só esta frase já deveria denunciar o absurdo
da afirmação, pois, em essência, é uma teoria da conspiração.
Para entender o princípio de uma Teoria da Conspiração (TC)
é preciso mergulhar em uma característica da mente humana, o reconhecimento e
interpretação de padrões a partir de análises pré-concebidas. Essa ferramenta
evolutiva é que permitiu a sobrevivência da espécie habilitando os portadores
dessa característica de sobreviver em um mundo em que não havia tempo hábil
para analisar se um perigo era real ou imaginário partindo de informações
mínimas, como um som de galho quebrando, um arrepio instintivo, uma ausência de
sons da natureza, etc.
O predador estava sempre por perto, mas nem sempre visível,
e poderia em um golpe repentino acabar com os menos vigilantes e desconfiados.
Essa paranoia natural da vigilância influenciou a evolução humana de forma que
pudesse sobreviver, mas também criou ferramentas de controle, de manipulação,
de ajustes da própria condição humana.
Quando a sociedade como a conhecemos foi instituída, os
predadores mudaram e se adaptaram. A Polis obrigava a um novo tipo de
relacionamento de comunidade que obrigava a determinadas regras públicas, a
política, a arte de conviver com os semelhantes.
Como todas as coisas que sobrevivem, sejam organismos vivos
ou ideias, essa ferramenta evolutiva também evoluiu e adaptou-se ao meio. A
história humana nos conta sobre os diversos complôs, esquemas subterrâneos que
visavam alterar a ordem estabelecida, mudar os agentes supremos e recriar
sociedades e parcerias. Como não poderia deixar de ser, a arte sempre buscou
apresentar e reinterpretar a visão de mundo, permitindo revelar o que sempre se
buscou ficar oculto e, para tanto, utiliza-se muitas vezes dos próprios
princípios que pretende denunciar, até para desvelar melhor os seus mistérios.
As primeiras TC do mundo artístico eram transmitidas de
forma oral, ganhavam corpo e formas diversas na tradição cantada e contada,
criando o que hoje chamaríamos de “lendas urbanas”. Eram excelentes formas de
gerenciamento, transmissão de conhecimento e preparação para o difícil mundo de
conviver com o poder subjetivo e efetivo a que a grande maioria das pessoas
estava submetido. Mascaradas em mitos, fábulas, histórias de aventura e
histórias morais, revelavam o que de outra forma não poderia ser dito,
brincando com os medos e as verdades estabelecidas, encantando da mesma forma
os algozes e as vítimas e, desta forma, sobrevivendo a qualquer tipo de
controle, embora sendo ferramentas de controle.
Neste trabalho serão reveladas algumas características
básicas das TC e como são utilizadas para diversos fins, em especial a
construção de textos literários ao longo dos tempos e suas diversas
possibilidades e intersecções.
Estrutura
de uma Teoria da Conspiração.
Desde a mais simples até a mais complexa TC é necessário
que haja uma estrutura elementar, que sustente de forma adequada todo o
conjunto de intencionalidades e induções a que se destina. Sem esses elementos
fundamentais teremos qualquer coisa semelhante, mas nunca uma teoria da
conspiração.
— Princípio da Universalidade – para funcionar
adequadamente, uma TC precisa ser universal, ou seja, abranger de alguma forma
conceitos que atinjam de igual forma todo o grupo ao qual atende.
— Princípio da Realidade – sempre terá suas bases, por mais
fantasiosos que forem os desenvolvimentos posteriores, na realidade e serão
facilmente comprováveis os seus fundamentos mais poderosos. Sem esse apoio da
verdade comprovável, tende a desmoronar sobre o peso de suas argumentações.
— Principio da Simplicidade – Talvez o mais importante para
que seja difundida, se baseia no fato de que precisa ter aceitação pelo maior
grupo de indivíduos afetados de forma rápida. Portanto, por mais complexa que
seja a TC ela será dividida em camadas consecutivas de forma que haja um
aprofundamento gradual possível dos conceitos aplicados de forma que sempre
pareça acessível aos que tiverem o interesse de mergulhar pelos seus
subterrâneos. Qualquer indivíduo pode ir descortinando os seus segredos e
“vendo” o que estava oculto aos demais. Esse fator de sedução e diferenciação
do adepto contra o resto da sociedade o torna um conspirador favorável ou
contrário, dando uma aura de mistério e carisma insuperável.
— Principio da Solução – Aqui reside a força da TC. A
capacidade de qualquer conspirador, favorável ou não, de solucionar os seus
mistérios, ainda que de forma parcial. Funciona como um labirinto onde
possibilidades diversas conduzem a finais alcançáveis mediante as capacidades
dos investigadores. Todos que se dispuserem a buscar, encontrarão algo no final
do percurso, ainda que seja um engodo criado apenas para satisfação dos que
tentam destruir a estrutura principal. Uma boa TC tem que ser trabalhada como
uma teia em que as estruturas secundárias suportem rompimentos de grandes
seções sem desmontar completamente, até mesmo usando esse desmonte como um
mecanismo de proteção e aprisionamento do investigador.
Existem outras estruturas que poderiam ser descritas, mas
apenas utilizando os Princípios elencados já é possível ter uma ideia de como
funcionam.
LENDAS URBANAS
Algumas TC se tornam clássicos populares, costumam ser
simples e divertidas em suas formas didáticas de inserir valores relativos para
a sociedade. É o caso, por exemplo, do “Pipoqueiro do Mal”, aquela figura simpática
que fica em lugares públicos, normalmente próximo a escolas infantis, que
adiciona drogas viciantes no seu produto, obrigando os incautos a comprarem
sempre mais para suprir as necessidades do vício.
Os fatos reais são fundamentados na oferta de produtos
viciantes, que tornam uma ação altruísta algo nocivo. Brinca com a questão de
que devemos desconfiar de tudo que nos é oferecido sem custo. Sobrevive na
realidade dura das cidades onde traficantes verdadeiros oferecem a “prova” das
drogas ilícitas para depois cobrarem altos custos dos viciados. Apesar disso é
desmontada com facilidade diante de um raciocínio lógico: O custo da droga
misturada à pipoca é muito superior a qualquer quantidade de pipoca vendida
posteriormente.
Mas o raciocínio se sustenta pela forma da metáfora, onde a
“pipoca” pode ser qualquer coisa, desde o brinde de um pacote de figurinhas que
só se justificam na compra do álbum e nas figurinhas que terão que ser
compradas para o completar, até um animal de pelúcia na aquisição de um carro
zero km.
Esse princípio é o da “isca”, usa-se algo de valor
intrínseco para atrair um consumo não desejado de algo que supera e inclui o
valor do brinde ofertado. Quem nunca acabou “fisgado” por algumas revistas
“grátis” na assinatura dos novos exemplares, ou por uma “prova” de algum
produto se entrar na loja para comprar algo? Esses recursos são amplamente
utilizados e permanecem vivos porque produzem efeitos válidos.
A lenda urbana do “Pipoqueiro do Mal” atinge o Princípio da
Universalidade porque age diretamente na questão dos ícones da infância, qual a
criança que não gosta de pipoca? O pipoqueiro está presente em todas as
atrações mais divertidas, do circo ao cinema, do passeio no Zoológico à praça
com brinquedos.
O Princípio da Realidade é satisfeito pela questão de que
não se sabe o caráter da pessoa que vende a pipoca. Não há como definir se
aquela pessoa é alguém “do bem” só pelo ofício que exerce. Não se exige
qualquer especialidade para exercer a profissão de pipoqueiro e é, normalmente,
algo que passa uma imagem de inocência e confiabilidade.
O Princípio da Simplicidade e o Princípio da Solução são
satisfeitos pelo fato de que seus elementos compositores são tão profundos
quanto se quiser aprofunda-los. Como foi dito anteriormente, seria ridículo
contaminar as pipocas com drogas para aumentar o consumo, o custo x benefício
seria comprometido, portanto a teoria se desmonta. Porém, por ninguém
desconfiar do singelo pipoqueiro, ninguém vai pensar que ele pode ser um espião
vigiando abertamente um local ou pessoas, ou mesmo que ele pode ser algum
agente interessado em causar o pânico contaminando as pipocas com algum vírus
que se disseminaria rapidamente pelo agrupamento. Poderiam ser inseridos
contextos de complexidades diversas a partir do inocente pipoqueiro, e ainda
teriam a proteção do “desmonte” programado. Quem iria acreditar no pipoqueiro
envolvido em uma grande conspiração?
Basta lembrar que um bom labirinto não apenas torna os
caminhos semelhantes, mas induz a determinadas saídas e soluções que “desvelam”
seus segredos, enquanto na verdade estão apenas escondendo à vista de todos o
verdadeiro tesouro que guarda.
Na TC não apenas o que é oculto tem importância, mas também
o que é revelado, a forma como é revelado e quando é revelado, que muitas vezes
servem de truques ilusionistas para desviar a atenção enquanto a verdadeira
ação está acontecendo sob os olhares de todos, como um truque de mágica, até
que seja tarde demais para impedir-se os efeitos. Essa estratégia é chamada de
Camada (des)Informativa e trataremos dela a seguir.
CAMADAS
(des)INFORMATIVAS
“E conhecereis a verdade, e a verdade voz libertará” (João
8:32).
Há milênios que o pressuposto do conhecimento da verdade
traz a libertação, mas há alguns problemas nisso. O primeiro é definir o que é
verdade.
A Filosofia, mãe de todas as ciências, tenta até hoje
chegar a um conceito que explicaria o que é a verdade. Dependendo de como se
busca o conceito do que seria a verdade, ela assume aspectos diferentes e,
ainda assim, válidos. Por exemplo: a verdade pode ser material, formal,
analítica, sintética ou sofisma.
Para complicar, até mesmo o que concebemos como realidade é
subjetivo, depende dos sentidos, da interpretação destes por um conjunto de
interações no cérebro, e por aí vai.
O mesmo ocorre com a liberdade. O que seria? Não há uma
conclusão final, porque na maioria das vezes chega-se a uma liberdade parcial.
Então, do que a verdade nos libertaria? Para quê?
O que isso tem a ver com a Teoria da Conspiração? Basicamente,
tudo.
Uma TC não lida necessariamente com a mentira, ao
contrário, as melhores lidam justamente com a liberação da verdade. Uma mentira
é difícil de ser mantida por muito tempo, por um grande número de pessoas.
Quanto maior o tempo e o número de pessoas envolvidas, mais breve será a
mentira e mais rapidamente desmascarada. Por outro lado, uma verdade parcial,
apresentada de forma a formar conceitos incorretos, pode durar longamente e se
tornar ainda mais forte com o número de pessoas que a propagam.
Uma meia-verdade é muito mais eficiente que uma mentira,
mais difícil de ser desvelada, mais forte e, principalmente, melhor aceita.
Isso porque há fatos que demonstram a verdade apresentada, afinal é uma
verdade, mas por ser incompleta, manipulada, indutora, serve a interesses de
quem a manipula, não é livre e não liberta ninguém, na verdade, acorrenta ainda
mais forte.
Assim como a verdade é uma construção que pode ter camadas
específicas ou camadas amplas, onde novos conhecimentos se somam aos já adquiridos;
a TC também tem camadas que podem ser bem rasas, bem específica, e se completam
e se reforçam em esquemas muito mais complexos.
Na verdade, quanto mais complexo o mundo se torna, mais
fácil se torna construir uma Teoria da Conspiração. Quanto mais informações são
divulgadas, mais complexo se torna descobrir as meia-verdades que abrigam, as
manipulações que escondem ou que provocam. Isso já está arraigado na
coletividade, entranhado no sistema amoral da construção da sociedade.
O que são as lendas, as histórias infantis, as ideologias
religiosas ou não, os discursos motivacionais, etc., senão meia-verdades que se
utilizam para atingir fins desejáveis? Quem não se sentiu confortado por uma
“mentira sincera” diante de algo trágico e insuportável? “Vai melhorar”, “Não
tema, vai dar certo”. Como assim? Como fazer afirmações que não podemos provar,
até que as façamos acontecer? O que é omitido é a verdade que “Se não melhorar,
não vai precisar se preocupar mais, pois terá sido o fim”, então é preciso
acreditar que sim, as coisas podem estar ruins, mas enquanto não se desistir,
há esperanças de que melhorem com o nosso esforço. A partícula da verdade
liberta do desastre total e manipula em direção a solução, tornando uma
meia-verdade em um fato utilizando as ferramentas da TC.
Isso nos leva a pensar que o objetivo de toda TC é a
sobrevivência daqueles que se servem dela, independente dos valores morais que
os motivam. Portanto a TC é uma ferramenta intelectual, não um organismo com
vontade própria com fins específicos e objetivos. É uma ferramenta de
sobrevivência e, portanto, extremamente versátil.
O mais interessante é que, por ser uma ferramenta de
sobrevivência, está sujeita às leis da evolução, ou seja, precisa se adaptar e
evoluir ou será extinta. Isso é facilmente comprovável quando se faz uma
pesquisa histórica. Nada melhor para determinar a evolução e adaptação de
alguma coisa que fazer uma pesquisa histórica.
A Teoria da Conspiração está tão entranhada no
desenvolvimento das sociedades que é impossível separa-las. Grupos, cidades,
reinos, nações, sociedades inteiras foram fundadas e derrotadas por
conspiradores. Conspirações ergueram e derrubaram impérios, basta ver o caso
dos Romanos, dos Gregos, na antiguidade. Casos como o de Cortez são emblemáticos,
onde a derrocada de um império se deu pela manipulação dos próprios pilares que
o mantinham. As máfias da modernidade e as sociedades secretas são exemplos
dessas manipulações de mão dupla.
Chegamos a época em que a informação está de tal forma
acessível e disseminada pelo mundo que é praticamente impossível esconder a
verdade, a menos que seja por baixo de outras verdades, pela intoxicação de
verdades seletivas ou insuportavelmente realistas, pela enxurrada constante de
verdades que anestesia e impede um raciocínio prolongado.
Na era da informação que prometia unir o mundo, finalmente
acessível a todos, sofremos cada vez mais um isolamento, uma desesperança.
Somos cada vez mais manipuláveis pelas tendências e pelos “movimentos
coletivos”, nossas vozes se perdem no grito da multidão. Criamos
voluntariamente barreiras contra o excesso que nos inunda e nos sufoca e,
deixamos brechas abertas por informações livremente apresentadas para nos
sentirmos parte de alguma coisa que se fragmenta na imensidão da coletividade.
Quanto mais fazemos parte de algo maior, menor nos sentimos diante do todo,
desvalorizando o nosso próprio potencial de intervir.
O que uma célula em um corpo pode fazer para alterar a
realidade do todo? Em uma palavra? Contaminação. É assim que um câncer se forma
e se dissemina. É assim que um vírus derrota um organismo bilhões de vezes mais
complexo e capaz de feitos incomparáveis.
É preciso aprender como funciona essa ferramenta evolutiva,
a Teoria da Conspiração, para poder impedir que se torne um câncer, e se torne
um fator de cura; para impedir que se torne um vírus que destrói o hospedeiro,
e se torne uma vacina que impede que fiquemos doentes.
E assim encerramos esta breve explanação sobre as bases da Teoria
da Conspiração e passamos a apresentar algumas possibilidades, também teóricas,
da sua aplicação. Podemos ser autores, atores ou figurantes, mas não podemos
nos furtar a sofrer as influências dessa ferramenta que, de alguma forma,
definirá os rumos futuros da humanidade, como vem fazendo desde os primórdios.
A CONSPIRAÇÃO AOS OLHOS
DE QUEM VÊ
Como foi dito anteriormente, uma TC precisa ser simples,
induzir algumas soluções parciais satisfatórias, ocultar camadas cada vez mais
complexas, lidar com a realidade e com a verdade de forma que estas se tornem a
sua base de sustentação adequadamente manipuladas para construir uma ficção que
se assemelha muito à verdade e que, quando desvelada, ainda se mantém
consistente em diversos níveis, como uma teia que mesmo tendo boa parte de sua
estrutura destruída, ainda se mantém estável e cumprindo o seu papel.
Dito dessa forma parece algo complexo demais, fruto da
genialidade de algum arquiteto maquiavélico com capacidade de elaboração
extremada. Não é. Qualquer um pode construir uma boa TC simplesmente a partir
de elementos que são dados na realidade, acrescentando pitadas imaginativas de
interpretação direcionada.
Vamos fazer um exercício para comprovar isso. Vamos
construir camada a camada uma trama complexa que se fundamenta em diversas teorias
da conspiração possíveis, mas que neste caso serão totalmente inventadas por
este autor para a demonstração prática de como é possível fazer. Obviamente,
por mera questão de praticidade e agilidade, será apresentada apenas a
estrutura elementar das diversas camadas, até porque não se deseja criar de
fato conspiradores, mas estimular artisticamente as possibilidades criativas e
argumentativas na criação de histórias fictícias com base na realidade
observável.
O melhor ponto de partida argumentativa para uma TC é
justamente um cenário real onde exista algo nebuloso e não completamente
explicável. No caso vamos nos apropriar do cenário político brasileiro da
atualidade. Escândalos políticos são ótimos para se construir teorias
conspiratórias, ainda mais quando envolvem denúncias de corrupção. Parece meio
óbvio e ultrapassado, afinal, esse tipo de cenário é mais comum na história das
nações que se desejaria reconhecer, mas vamos aplicar alguns elementos
diferenciais.
Pode-se começar de qualquer ponto a construção da TC, mas
para atender os princípios da Universalidade e da Simplicidade é necessário que
seja algo que afete a todos e que seja um tanto quanto óbvio, ao menos a
princípio. Essa é a “isca” para que seja propagada e incite a busca das camadas
ocultas. Então vamos usar o caso ainda corrente do impeachment do governo.
Depois de um longo período em que um partido popular de
ideologia socialista ter presidido o governo com pontos altos e baixos, como é
comum a qualquer governo, há uma reviravolta estrondosa com denúncias e
escândalos imensos afetando toda a economia e criando uma instabilidade
política e social de proporções nunca antes vistas. “Nunca antes vistas” é uma
frase recorrente nas teorias conspiratórias, dá uma ênfase na enormidade do problema
apresentado e indica subjetivamente que, finalmente, toda a verdade está sendo
revelada. É importante estar atento a essas frases de efeito porque boa parte
das teorias conspiratórias utilizam discursos semelhantes com a manipulação das
palavras de forma eficiente e sempre provocativas de estados emocionais. É
preciso que seja provocada uma emoção forte na construção de uma TC, só a
emoção consegue amortecer a razão de forma que se possa induzir comportamentos
que, racionalmente, não seriam cabíveis. A TC precisa de paixão no seu
desenvolvimento, na sua apresentação, na sua disseminação.
Então temos lá o tal governo popular, que se torna
populista na apresentação pelos seus adversários, com o detalhe de que há uma
descaracterização seletiva. Isso é importante, note bem o termo,
descaracterização seletiva. Como isso funciona? Em primeiro lugar se generaliza
a atuação do governo apresentando todos os malefícios como sendo provenientes
de uma única pessoa, partido ou ideologia, ignorando que em um sistema de
governo democrático há a necessária coabitação de diversas ideologias e
partidos que fazem acordos para que haja a chamada governabilidade, portanto,
seja pela ação ou pela omissão, todos os partidos estão envolvidos nos atos
apresentados categoricamente como sendo de um único governante ou partido. O
mesmo se dá, pelo oposto, quando os resultados alcançados são desejáveis, não
foram as coalizões dos partidos, até mesmo adversários, que promoveram o
sucesso, foi apenas “O Governo”.
Como já havia alertado, a ferramenta da TC funciona
independente dos valores morais de quem as usa. Ferramenta não tem
intencionalidade, podendo ser bem utilizada ou não na realização de um
trabalho, de acordo com a habilidade e o interesse do executor e manipulador da
mesma.
Entra em cena a questão primordial da TC, o “motivo” que
culminou com os fatos apresentados. “A quem interessa? ” No caso, quem teria
interesse em destituir um governo eleito, ameaçando a economia, o sistema
político, até mesmo as negociatas escusas que ocorriam? É preciso pensar que
muitos das negociações mais sórdidas e mesmo as piores guerras entre bandidos
se dá de forma oculta, justamente para que os vencedores, sejam quem forem, não
fiquem expostos e possam continuar suas atividades tranquilamente. A lógica é
que podemos não gostar da nossa posição no sistema, mas não podemos desmontar o
sistema sem sermos afetados pela instabilidade e, pior, nada garante que o novo
sistema que será construído necessariamente nos beneficiará de alguma forma.
Por essa lógica é que é difícil desmontar um sistema de dentro, a implosão
acaba afetando dramaticamente os que a provocam, e todos sabem que para
desmontar um sistema de fora, é preciso que se tenha algo tão forte e poderoso
quanto o que se quer destruir, ou até mais forte e poderoso. Troca-se seis por
meia dúzia, como se diz normalmente.
Essa verdade é, como em toda TC, parcial. Pode-se desmontar
um sistema de dentro, ou mesmo substitui-lo completamente por outro, desde que
seja feito de um nível superior. No caso o que é mudado é apenas uma camada,
não o sistema inteiro, mas fica-se com a impressão que “as coisas mudaram”. E
isso pode ser extremamente vantajoso para o próprio sistema, restabelece a
confiabilidade que estava prejudicada, paralisa investigações mais profundas
que podem ameaçar as estruturas mais fundamentais. Sacrificar parte do próprio
corpo para conseguir sobreviver é uma estratégia utilizada na própria natureza
com bons resultados. Como costuma-se dizer, o lagarto perde o rabo, mas
preserva os dentes; na verdade, diante do predador mais forte, oferece o rabo
como barganha e assim que o adversário pensa tê-lo preso firmemente, escapa
deixando o rabo para trás. Isso deve provocar uma nova interpretação da famosa
expressão conspiratória de “estar com o rabo preso”.
Ok, voltando a nossa linha central, a quem interessaria a
desestabilização de um governo e de toda a estrutura sócio-politica? Em
primeiro lugar podemos pensar em um governo estrangeiro, seria o mais comum,
afinal é obvio que um adversário forte é temerário e a desestabilização provoca
fraquezas, mas cuidado com as obviedades em uma TC, elas costumam ser
projetadas para serem assim. Também podemos pensar em setores internos do
sistema, como uma revolução, sociedades secretas anarquistas, sociedades
políticas desfavorecidas e pouco atuantes no cenário estabelecido, até mesmo o
crime organizado, as máfias corporativas ou não; qualquer um desses casos
obteria grandes benefícios com o enfraquecimento e desmonte do sistema. O caos
cria oportunidades, isso é um fato trágico na história da humanidade. Não se
observa maior avanço tecnológico do que em períodos de instabilidade e até
mesmo de guerra declarada e não apenas pelos agentes óbvios que subsistem de
ganhos diretos relacionados, como produtores de armas. Muitos dos avanços da
atualidade em todas as áreas, são frutos bastardos dos esforços da Segunda
Grande Guerra, por exemplo.
Pense no fusquinha, na internet, na medicina nuclear, na
exploração espacial, nos satélites, nos antibióticos, nas vacinas, nos sistemas
gerenciais. Seja onde for que vá buscar as raízes de alguma tecnologia que
avançou rapidamente, vai acabar encontrando fins bélicos. Grandes empresas
incentivam abertamente a agressividade nos negócios como incentivadora de avanços.
Aparentemente a criatividade se torna mais forte em períodos de crise
generalizada. A crise, o caos, as desestruturações, geram bons negócios.
Estamos falando de Teoria da Conspiração, certo? Pois então
é preciso entender que esse discurso é em si, uma, globalmente aceita, e tem
bases na realidade como é típico de toda bem construída TC. É inegável que a
sobrevivência é um grande estimulador da criatividade, mas a competição não
precisa implicar em belicismo, haja vista que o esporte é uma forma de
competição que, preservados os seus princípios básicos de superação pessoal, não
tem características bélicas. Portanto, cuidado quando incorporar um discurso
manipulador como o apresentado, sem que se perceba está fazendo parte de uma
grande conspiração que tenta justificar o injustificável sob qualquer outro
prisma.
Voltando ao nível primário da nossa TC imaginária. A
instabilidade que constantemente vemos noticiada, poderia ter por base tanto
uma reforma política desejada pelos próprios políticos, estimulada por
empresários, desejada por segmentos organizados oriundos da sociedade interna
ou até mesmo por interesses de outros governos. A instabilidade obriga
mudanças, obriga reinterpretações, obriga repactuações e negociações. A
instabilidade prolongada causa danos e, em algum momento, precisa ser revertida.
Seja em um novo rumo, seja nos mesmos moldes, mas com aparência de mudança, do
contrário torna-se autoimune, agride a si mesma e, se não for tratada
rapidamente, implica na morte de toda a estrutura que pretendia favorecer.
Só essas bases apresentadas já dariam boas histórias
conspiratórias, mas vamos aprofundar um pouco mais. Vamos colocar elementos
geopolíticos mais amplos. Continue acompanhando neste mesmo local a
continuidade deste trabalho e descubra como acrescentar mais camadas na Teoria
da Conspiração, integrando-as no que já foi apresentado e ampliando o foco ao
mesmo tempo que descemos ao mais profundo subterrâneo do indizível.
PIRÂMIDE DA TEORIA DA
CONSPIRAÇÃO.
Anteriormente
apresentei as bases gerais da construção de uma Teoria da Conspiração, bem como
a forma de se criar camadas que manipulam as informações e induzem as
perspectivas gerenciáveis. Foi apresentada uma TC baseada em fatos locais
facilmente reconhecíveis, com alguns questionamentos válidos que poderiam ser
trabalhados no seu desenvolvimento ficcional. Agora a proposta é ampliar o foco
e aprofundar ainda mais a complexidade e descer aos níveis mais profundos
possíveis. Para isso será necessário observar alguns outros elementos que vão
aos poucos construindo o nosso panorama geral ao mesmo tempo que servirão de
bases para a ampliação, reformulando o entendimento do que já havia sido
apresentado e obrigando uma nova perspectiva e reinterpretação.
Observemos
as crises em vários países e até mesmo em blocos econômicos. O Mercosul que até
hoje não decolou, a crise na Síria que desestabilizou a União Europeia, o
terrorismo internacional. Como juntar
tudo isso em uma TC que ampliaria em diversas camadas a nossa base local? Como
fundir a crise brasileira em uma crise global, com interesses particulares
extremamente complexos e verossímeis?
Basta acrescentar um elemento comum a todos, algo tão
grande e insuperável que obrigue a medidas extremas, complexas, de curto, médio
e longo prazo. Não vamos falar em guerra global. Quando as armas nucleares
entraram no cenário foi necessário rever essa forma de atuação, a “Guerra Fria”
foi uma solução paliativa que acabou se tornando obsoleta e revista no seu
devido tempo e embora tenha rendido boas histórias conspiratórias, precisou
evoluir. É preciso pensar em algo que motivasse governos em diversas camadas
conspiratórias, algo que fale diretamente na questão da sobrevivência pessoal e
global em níveis incontestáveis quanto a necessidade de medidas extremas e que
não provoque nada semelhante a um conflito armado global. Mas o que seria?
Posso começar pelo óbvio e pensar na superpopulação do
planeta. Na crise cada vez mais grave no gerenciamento de recurso finitos. Não
importa o quão rápido a ciência gere recursos, em algum momento não teremos
espaço para tantas vidas, não teremos como sustenta-las com alimentos, com
expectativa de vida minimamente razoável. Quando populações inteiras são
submetidas a condições de vida precárias há necessariamente a revolta, seja
local, seja internacional. Alguns dirão que isso já foi revisto, que as
técnicas de produção, armazenamento e distribuição evoluíram de forma a jogar
para um futuro indeterminado essa necessidade de rever as políticas de
natalidade globais. Será? Em se tratando de uma TC sempre é preciso cuidado,
poderíamos pensar na manipulação de informações, programas de desestimulação de
famílias grandes, revisão dos comportamentos sexuais para fins não
reprodutivos. AIDS entraria facilmente nessa lista, apoio ao homossexualismo,
incentivo a busca da realização pessoal individual. Tudo pode ser utilizado
para questionar as intenções por trás de políticas globais e lançar dúvidas
argumentativas perfeitamente coerentes, mesmo que totalmente erradas. Gerar a
desconfiança é tão útil quanto promover certezas quando se trata de construir
teorias conspiratórias, as realidades podem ser facilmente torcidas e
distorcidas para atender os objetivos dos conspiradores.
Então vamos buscar alguns elementos históricos. Lembre-se
que uma boa TC precisa gerar sentimentos fortes para reduzir a intervenção
racional. Tivemos a crise na Etiópia que gerou uma comoção mundial, foram
feitos bons negócios para aplacar a fome na África e mitigar os espíritos mais
privilegiados de condições. E ainda assim, há fome na África e em outros
lugares do mundo. Os corações abertos foram se fechando aos poucos, assim como
os bolsos, quando as epidemias começaram a se alastrar de forma global, muitas
delas à partir da própria África. Ebola, AIDS, Gripe Aviária, Gripe Suína, Vaca
Louca, só para citar as mais famosas, provocaram ações antes impensáveis. Em
tempos de crise alimentícia no mundo todo, toneladas de alimentos foram
sistematicamente destruídos, segmentos sociais excluídos e olhados com
desconfiança, o medo se alastrando e exigindo soluções desesperadas antes
inconcebíveis.
Quem foi capaz de pensar em genocídios seletivos através de
doenças sistematicamente desenvolvidas para mitigar os efeitos da superpopulação
no planeta, ao mesmo tempo em que bons negócios proliferavam devido à crise de
abastecimento de alimentos e até mesmo de remédios, pode pegar seu diploma de
conspirador, e esconde-lo para não se revelar. Sim, essa é uma boa argumentação
para mais uma camada conspiratória que se liga ao momentum local. Basta
consultar os arquivos históricos e elaborar suas teorias utilizando como bases
empresas multinacionais, pan-nacionais e governos corruptos, fatos noticiados
alimentariam facilmente milhares de histórias conspiratórias com cenários
locais e/ou internacionais.
Mas é possível outras abordagens mais dramáticas, mais
profundas e, porque não dizer, mais sórdidas. Afinal estamos adentrando os
subterrâneos mais profundos das Teorias da Conspiração e o Inferno é o limite,
certo? Para ir mais fundo é preciso ter uma percepção mais crua, mais dramática
e desconstrutiva dos valores humanos. Precisamos mergulhar fundo nas piores
possibilidades da crueldade humana, no egoísmo alienante que beira os limites
da sociopatia. Eu digo limites porque nem todos conspiradores são sociopatas, é
importante destacar que a ferramenta da TC não age apenas na vítima, mas no próprio
executor. Com argumentos bem convincentes é possível que o próprio conspirador
passe a acreditar na mentira que propaga, justificando até mesmo para si os
seus atos condenáveis, o que não seria necessário no caso de um legítimo
psicopata.
Diferentemente da psicopatia, em que a ausência do
reconhecimento dos sentimentos do outro e da possibilidade de empatia, impede
um convívio social saudável, a sociopatia se desenvolve na alienação em relação
a segmentos sociais. Um sociopata é capaz de conviver muito bem com os seus
semelhantes, mas se exclui de todo o resto da raça humana por se considerar
acima destes. Se considera como alguém que merece ter a sua sobrevivência
assegurada por ser essencial ao projeto de humanidade que se molda aos seus
interesses. Portanto acha totalmente justificável sacrificar inocentes para que
se salvem alguns. Notavelmente essa linha de pensamento já demonstra a
sociopatia implícita no discurso de que “se tiverem que morrer alguns inocentes
para preservar a ordem, que seja”. Como o sociopata não se julga inocente, de
certa forma se exclui dos que irão morrer por César.
Então como seria possível incluir essa camada mais vil e
fortemente emocional naquelas camadas anteriormente apresentadas de forma que
atinja um nível ainda maior da TC? Simples, mas para isso precisa-se lançar mão
de algumas teorias paralelas. Uma delas é a da pirâmide social.
Pela lógica da pirâmide social, quanto mais próximo do cume
menos indivíduos. Ou seja, quanto mais alto na pirâmide de poder e recursos,
menos pessoas com maior capacidades e recursos de manipular toda a base que os
precede. Portanto, temos camadas e camadas de gerentes de recursos cujo único
objetivo é cada vez mais acumular recursos e poder para fazer parte daquela
ínfima classe, invisível à base geral, que comanda todo o resto sem ser
comandada por ninguém. No topo da pirâmide apenas alguns são admitidos, com os
recursos que ultrapassam absurdamente blocos inteiros em que se apoiam e que
comandam. Uma boa metáfora seria uma arvore minúscula, com apenas uns poucos
frutos, alimentada por raízes homéricas espalhadas por extensões absurdamente
grandes.
Quantos teriam nessa “seleta” parcela da comunidade
piramidal? Podemos escolher qualquer número simbólico. Treze, dez, sete, seis,
não importa. O principal é que sejam invisíveis, ainda que observáveis. Seria
necessário que fossem reconhecíveis entre os poderosos, mas jamais apontados
como os “Donos do Mundo”. Do contrário, seriam alvos fáceis e não se
sustentariam. Também seria necessário que se traçasse um caminho possível para
alcançar essa posição, um caminho que necessariamente iria igualando o
pretendente a todos aqueles a quem pretende ter acesso. A lógica aqui é de que
apenas um sistema igual é capaz de combater um outro sistema; ou de que só se
pode substituir uma peça do sistema por outra equivalente, o que torna
impossível destruir o sistema. Aliás, a base de qualquer TC é de que é
impossível destruir o sistema que ela denuncia, não importa o que seja feito, no
máximo pode-se alterar os seus componentes. Será?
Então, para finalizar, vamos aplicar o que foi apresentado
até agora na nossa TC fictícia e dar por encerrado esse exercício imaginativo.
Qual motivação seria necessária para que os “Donos do Mundo” decidissem
provocar uma crise global, com diversas camadas de conflitos localizados,
aproveitando os recursos gerados a partir das manipulações agressivas, mas com
resultados temerários e de difícil controle? É preciso lembrar que uma guerra
global com armas nucleares não é de interesse para ninguém, principalmente para
os orquestradores da TC, então o que motivaria algo tão arriscado?
Posso pensar em várias soluções para isso, mas vou
apresentar apenas uma mais simples e que atende completamente ao mais cético
leitor: Aquecimento Global.
Como assim? Uma teoria da conspiração fundada em algo que
está visível em qualquer noticiário das últimas décadas? Algo que já foi
discutido e reconhecido à exaustão? Pois é, simples assim. Vamos testar a
hipótese?
— Princípio da Universalidade – Afeta a todas as pessoas no
planeta.
— Princípio da Realidade – Não há como negar os efeitos
gerados pelo aquecimento global, está noticiado e comprovado de diversas
formas.
— Principio da Simplicidade – É compreensível a qualquer um,
embora possa ser trabalhada em diversos níveis de complexidade nos interesses
de governos, empresas ou segmentos organizados.
— Principio da Solução – É possível “combater” os efeitos
danosos com práticas ecológicas globais, ou aliar-se aos que promovem os seus
efeitos planejando como adquirir mais recursos durante a própria crise.
Atendidos os requisitos necessários, podemos então usar a
argumentação para elaborar a TC. Qual o motivador das ações dramáticas? Posso
listar alguns:
— Sobreviver à catástrofe que está para ocorrer em nível
global.
— Reduzir o “rebanho” de forma drástica, fazendo com que os
melhores adaptados possam sobreviver e reconstruir a sociedade sob novos
moldes, atendendo, é claro, aos interesses dos Donos do Mundo.
— Arregimentar recursos durante a crise, basta lembrar do
conceito de criatividade expandida e investimentos massivos devido à crise
generalizada.
— Apagar completamente os indícios que demonstrariam
claramente quem provocou o aquecimento global e se beneficiou dele.
Como juntar todas as peças de forma a traçar uma linha
entre a base e o topo da “pirâmide”? Partindo de uma conspiração local e
esmiuçando os motivadores até se “descobrir” relatórios que comprovem
“cientificamente” que os efeitos climáticos serão menos sentidos em uma região
específica do planeta, por exemplo, as áreas equatoriais e tropicais. Repare
que nesta região mais agraciada pelo sol, os efeitos de uma glaciação provocada
pelo aquecimento global (sim, isso pode parecer estranho, mas pesquise a respeito,
vai se surpreender) seriam menos sentidos nessa região, além de que alguns
países de proporções continentais como a África e o Brasil, estão bem dentro
dela.
Opa, agora começamos a “entender” a fome na África ou as
crises brasileiras que, surpreendentemente, não são tão intensas quanto
poderiam. Poderíamos até começar a repensar o bordão de “Brasil, um país do
futuro” sob nova perspectiva. Poderíamos repensar diversas coisas, desde as
políticas sociais implementadas nas terras tupiniquins até a influência que o
país tem adquirido em conselhos globais, como a ONU. Podemos viajar pelas
possibilidades apresentadas pela globalização, pela internet e até mesmo pelas
“experiências” políticas de união de blocos político-econômicos dispares como o
Mercosul e a União Europeia.
Sim, não há limites para as possibilidades criativas em
cima do modelo apresentado, seja pela vertente positivista, com os melhores e
maiores valores humanos preservados, como fez Arthur Clark, por exemplo, no
excelente livro de TC chamado de “Richter 10” onde apresenta uma maravilhosa
versão ao mesmo tempo catastrófica e otimista do futuro. Podemos ir na linha
oposta e desconstruir a humanidade à moda de Kurt Vonnegut. Podemos ir onde a
imaginação nos levar, ou não.
Mas espere, por que motivos um autor se disporia a
apresentar abertamente um veio rico, com todas as bases estruturais de
execução, de como montar teorias da conspiração, sendo que suas ideias podem
ser utilizadas pelos concorrentes sem que haja nenhum retorno financeiro para o
mesmo de forma direta? Isso não lhe parece muito obscuro? Deve haver algo que
não foi explicado adequadamente, há interesses escondidos nisso que precisam
ser investigados. Está começando a se sentir manipulado por este autor em um
nível que não compreende completamente, mas que já desconfia?
Se você foi capaz de pensar nisso e releu tudo o que foi
apresentado sob uma nova perspectiva, parabéns. Pode ser que tenha chego à
conclusão de que aquele que ensina alguma coisa entende muito mais profundamente
do seu objeto de estudo, do que aquele que acaba de aprender. Essa pode ser a
sua “deixa” de saída, sistematicamente planejada desde o princípio. Ou pode ser
que o objetivo tenha lhe escapado de alguma forma e vai tentar ir mais além do
que foi apresentado, vai começar a estudar este autor e seus textos. Pode ser
até que se torne um fã e passe a segui-lo e a apresenta-lo para outros na
tentativa de descobrir outras vertentes para o que lhe escapou. O que posso
acrescentar?
Nos
vemos no topo. Ou não.
Danny Marks
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