Não há
dia melhor para apresentar os ossos que hoje, Dia dos Pais.
Datas comemorativas foram criadas para sustentar o
comércio, principalmente em tempos de crise econômica (e os governos nunca
economizaram em criar crises). Torna-se quase uma obrigação apresentar os ossos
mais simpáticos do corpo, os dentes, por mais que estejam amarelados, ausentes,
branqueados artificialmente, substituídos por simulacros caros, amigos.
Pais são, na emblemática figurativa das sociedades, os
ossos da família. Assim como as mães são o coração e os filhos, a alma que
precisa constantemente ser vigiada e reconduzida para evitar que se percam nos inúmeros
descaminhos que as almas gostam de frequentar.
Ossos são como a morte, algo que está sempre lá, em algum
lugar, cumprindo o seu papel, mas deve permanecer escondido até que algo grave
provoque a sua exposição.
E são expostos, tremulando em bandeiras piratas anunciando
o terror que chega, em shows de rock gritando a energia que nunca acaba em
sorrisos descarnados. Caveiras de olhos que veem além dos olhos, iluminadas,
purpurinadas, em chamas devoradoras de pecados, escurecidas, brilhantes para
além dos limites do desconhecido que se recusa a manter-se oculto.
Ossos cruzados em abraços e nos confrontos, ossos
revestidos de metal, partidos e reconstruídos de forma radical. Somos os ossos
da evolução que olha além dos campos, negando a gravidade, devorando a vida em
nacos arrancados.
Edifícios são ossos de concreto na cidade, calados
permanecem ignorados até que se partem. Cumprem o seu papel, observam tudo em silencioso
esgar, cientes de que estarão lá, duros, secos, firmes, quando tudo o mais
tiver sido apagado.
Até que virem cinzas poeirentas de um corpo que não precisa
mais se sustentar. Essa é a nossa jornada, que se inicia neste momento,
erguendo-se desnuda em palavras que, expostas friamente, observam os efeitos
que provocam apenas pela sua inegável existência.
Ossos do ofício, viciados em expor o indizível,
sustentando-se sozinhos.
Danny Marks
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